domingo, 25 de novembro de 2007

Outros Causos XII (tempos atrás...)


Salmoura com vinagre
Em nosso município bem antes da emancipação, se sabe que os policiais eram meio que escolhidos a dedo. Sendo valente e peleador não importava a grossura do tio ou o nível escolar. Garanto-lhes que não era meu parente, porém o meu parente ‘tava naquela ocasião. Um soldado e o comandante faziam uma patrulha rotineira ali no Passo das Pedras e interpelaram no bolicho o compadre Torânsa. O negro velho era cortador de mato, ‘tava no bolicho fazendo umas compras, um punhado de erva, um pedaço de lingüiça, etc..., ‘tava com o facão na cintura (era seu instrumento de trabalho). Não quiseram saber: “dá o facão pra cá, não pode andar armado”! E se atracaram no “nego veio” que nem urubu em carniça. Maldita determinação de uma autoridade quando não sabe o terreno que pisa. O Torânsa – nego já duns sessenta anos – coitados dos brigadianos! Tomaram uma coça de planchaço de facão, saíram atucanados do aço. Buscaram reforço deixando as viaturas longe do bolicho. O Torânsa ‘tava bem ali escondido atrás de umas moitas, sabia que era muito soldado para sua destreza, lamentou estar muito longe do mato onde trabalhava pois poderia convidar seus dois primos e um irmão para fazer uma boa peleia com aqueles brigadas. Saiu barato, sorrateiramente cortou os pneus do Jeep e de uma outra camionete e se foi a “lá cria”. Dizem que tempos depois fizeram um tocaia para o nego veio, deixando ele em estado de charque. Seus familiares tiveram que salgar o nego. Na verdade, naquele tempo, remédio de pobre não passava de salmora com vinagre.

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